quinta-feira, 10 de setembro de 2020
O golpe, a cumplicidade dos poderes e das pessoas
Os poderes sem as pessoas não existem.
Porque as pessoas estão deixando destruir a pouca democracia que temos?
Rui Castro, jornalista experiente, tem sido uma das pessoas que têm reagido com firmeza aos abusos de Bolsonaro e sua tropa.
Leiam o artigo publicado na Folha de ontem. Uma beleza de conclamação à responsabilidade cívica.
Ele é o golpe
Rui Castro – Folha – 08/09/2020
O Executivo já é de Bolsonaro;
O Legislativo foi comprado;
Só falta agora dominar de vez o Judiciário
A receita para o desmonte da democracia por Jair Bolsonaro, de infiltrar-se nos poderes para miná-los e dominá-los, está-lhe saindo melhor do que ele esperava.
O Executivo nunca foi problema.
Como presidente, ele já lhe pertencia, bastando-lhe desmontar o aparelhamento anterior e instalar o seu —o que tem sido feito à custa até dos quadros mais neutros e técnicos, substituídos por jagunços estranhos às funções. É um desastre para o país, mas, para Bolsonaro, e daí?
O Legislativo, por sua vez, pode ser comprado —como ele bem sabe por ter feito parte dele durante 30 anos— e efetivamente já o foi, com a distribuição de cargos e verbas. Cargos e verbas, aliás, com que, aproveitando o carrinho entre as gôndolas,
Bolsonaro tirou também o Exército da prateleira
e o jogou no meio das margarinas.
Por fim, o poder mais resistente, o Judiciário, logo estará igualmente sob seu controle, com as nomeações de mais alguns togados decisivos e a adesão de outros. Nesse caso, o interesse de Bolsonaro não é mais blindar-se contra as investigações sobre as promíscuas negociatas de seus filhos, mulheres, ex-mulheres, noras e mães uns dos outros.
O que lhe importa agora
é garantir-se nas várias instâncias da lei
em suas investidas contra a Constituição.
Para isto, Bolsonaro conta com o acoelhamento definitivo do Supremo —o mesmo que, num vídeo, ele comparou às hienas, invadiu seu recinto com uma galera, omitiu-se quando um de seus filhos ameaçou mandar um soldado e um cabo para fechá-lo, protegeu os terroristas que dispararam contra o seu prédio e apoiou um esbirro que chamou os ministros de “vagabundos”.
O que falta ainda?
Só mesmo Bolsonaro, em pessoa, sair à noite, munido de spray, e pichar-lhe a fachada.
Ou não mais.
A historiadora Lilia Schwarcz disse esta semana no programa de TV “Roda Viva” que:
Bolsonaro já não precisa dar o golpe
— “Ele é o golpe”.
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