Leiam artigo publicado no NY Times e no Estadão, dia 15/11/2016.
Vale tanto para os americanos, como para os brasileiros.
Leiam com muita atenção, inclusive pensando no PT...
Para onde vão os democratas?
Estadão - 15
Novembro 2016 | 05h00
Bernie
Sanders
Milhões de
americanos votaram em protesto no dia 8, manifestando sua oposição a um
sistema político e econômico que põe a riqueza e os interesses corporativos
acima dos interesses da população.
Apoiei Hillary Clinton e trabalhei duro em sua campanha
por achar que ela era a melhor opção. Mas Donald Trump conquistou a Casa
Branca.
Sua retórica de campanha explorou com sucesso um medo
muito real e justificado – um medo que
muitos democratas tradicionais também sentem.
Fiquei triste, mas não surpreso, com o resultado.
Acredito que milhões de pessoas que votaram em Trump o
fizeram porque estão cansadas da atual
situação da economia, da política e da mídia. Famílias operárias veem como
políticos recebem doações de campanha de bilionários e de representantes de
corporações – e como, uma vez eleitos, esses políticos passam a ignorar os
interesses dos americanos comuns.
Nos últimos 30 anos, muitos
americanos foram vendidos pelos patrões. Enquanto trabalhavam cada vez
mais, e por salários cada vez menores, viam os bons empregos irem para China,
México ou outro país de salários mais baixos.
Cansaram-se de ver
diretores de empresas ganhando 300 vezes mais que eles, com 52% dos novos
salários indo para o 1% de empregos de cúpula. Muitas de suas antes belas
cidades do interior ficaram despovoadas, as lojas fechadas, os jovens tendo de
sair de casa por falta de emprego – enquanto as corporações sugavam a riqueza
das comunidades para depositá-las em paraísos fiscais.
Trabalhadores
americanos não conseguem mais pagar por assistência decente e qualificada
para suas crianças. Não podem mais mandar os filhos para a faculdade. Ao se
aposentarem, não têm nada na conta bancária. Em muitas partes do país não
encontram moradia pela qual possam pagar e o preço do seguro-saúde é alto
demais. Muitas famílias vivem em desespero: drogas, álcool e suicídio encurtam
a vida de um número cada vez maior de pessoas.
Trump está certo: os
americanos querem mudanças.
Mas que tipo de mudança ele oferece?
-
Terá
coragem de enfrentar os poderosos que são os responsáveis pelo sofrimento
econômico de tantas famílias trabalhadoras?
-
Ou dirigirá essa raiva majoritária para as
minorias, para os imigrantes, para os pobres e desprotegidos?
-
Terá ele coragem de peitar Wall Street, de
tentar domar as instituições financeiras “grandes demais para quebrar”, de
forçar os grandes bancos a investir em pequenos negócios, criando empregos no
interior do país?
-
Ou vai nomear outro banqueiro de Wall Street
para chefiar o Departamento do Tesouro e manter os negócios como estão?
-
Vai, como prometeu, enfrentar a indústria
farmacêutica e obrigá-la a baixar os preços dos remédios?
Fico angustiado ao ouvir histórias de americanos sendo
assediados e intimidados na esteira da vitória de Trump e de famílias que vivem
com medo de serem separadas. Avançamos muito como país que combate a
discriminação.
Não vamos
retroceder.
Estejam certos:
não haverá concessões quanto a racismo, preconceito,
xenofobia e sexismo.
Vamos combater isso em todas suas formas, quando e onde
voltar à tona.
Manterei a mente aberta para ouvir que ideias Trump
oferecerá, para como e quando poderemos trabalhar juntos. Mas, tendo perdido no voto popular, ele
faria bem em prestar atenção às opiniões dos progressistas.
Se estiver falando sério sobre adotar políticas que
melhorem a vida dos trabalhadores, dou a ele algumas sugestões para que tenha
meu apoio.
-
Vamos reconstruir nossa destroçada
infraestrutura e criar milhões de empregos bem pagos.
-
Vamos elevar o salário mínimo para um patamar
que permita a sobrevivência.
-
Vamos ajudar os estudantes a pagar a faculdade.
-
Vamos garantir licença-maternidade, licença
médica e ampliar o seguro social.
-
Vamos reformar um sistema econômico que permite
a bilionários como Trump não pagarem um centavo de impostos federais.
-
E, mais importante que tudo, vamos acabar com a
possibilidade de grandes doadores de campanha comprarem os resultados de
eleições.
Nos próximos dias,
também vou propor
reformas para revigorar o Partido Democrata.
- Tenho convicção de que a agremiação deva se libertar de
seus laços como o establishment corporativo para voltar a ser o partido da classe trabalhadora, dos idosos e dos
pobres.
- Precisamos abrir o partido para o idealismo e a energia
dos jovens e para todos os que lutam pela justiça econômica, social e
ambiental.
- Temos de ter a coragem de conter a ganância e o poder
de Wall Street, das empresas farmacêuticas, das seguradoras e da indústria
petrolífera.
- Quando minha campanha chegou ao fim, prometi a meus
apoiadores que a revolução política continuaria. Agora, isso precisa ocorrer.
Somos a nação mais rica da história da humanidade.
Quando nos unimos e não permitimos que demagogos nos
dividam por raça, gênero ou origem, não há nada que não consigamos fazer.
Precisamos
avançar, não retroceder.
/
TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ
*SENADOR DE VERMONT,
DISPUTOU
AS PRÉVIAS DEMOCRATAS DE 2016
AS PRÉVIAS DEMOCRATAS DE 2016
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