Um ótimo programa
Ir ao Teatro Municipal de São Paulo, no dia 12, assistir a
uma Ópera depois de ler sobre denúncias de corrupção e de ver o grande regente
Netchling ser demitido por suspeitas de envolvimento, nos deixou bastante
apreensivos. Como o tema da ópera era muito interessante, resolvemos enfrentar
o desafio.
Para nossa surpresa, a apresentação foi de primeira
qualidade. Foi tão boa que ficamos aguardando para ver o que a imprensa ia
comentar. Na quinta-feira, dia 13, nem a Folha nem o Estadão comentou nada.
Achamos estranho... Mas hoje saiu um bom comentário da apresentação e da crise.
O Teatro Municipal sobreviveu.
Leiam o bom comentário de Sidney Molina, publicado na folha
de hoje.
Ópera 'Elektra' mostra bom som, dinâmica e clareza
SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
CRÍTICO DA FOLHA
A grave crise
institucional no Theatro Municipal —que culminou com a demissão do maestro
titular e diretor artístico John Neschling no mês passado— parece não abalar
músicos e coralistas da casa.
Na ópera
"Elektra", de Richard Strauss (1864-1949), talvez a produção mais
importante da excessivamente enxuta temporada 2016 (basta dizer que esta é
apenas a terceira montagem do ano até aqui), os corpos estáveis garantiram o
êxito.
É uma música difícil
de fazer, e a Orquestra Sinfônica Municipal mostrou que está em grande forma.
Som bonito, ampla dinâmica, clareza rítmica, além de homogeneidade em todos os
naipes. O mesmo para o Coro Lírico, dirigido por Bruno Facio.
Assumir a partitura
de Strauss em cima da hora não seria tarefa fácil mesmo para um regente experiente,
o que acentua as qualidades do jovem Eduardo Strausser (nascido em 1985), que
havia sido assistente de Neschling.
Na quarta (12) a
soprano dinamarquesa Eva Johansson fez o papel de Elektra com fluência e amplo
domínio cênico, mas também com algum esforço vocal diante da pesada massa de
instrumentos.
Melanie Diener sobrou
como a irmã Crisótemis e o baixo Johmi Steinberg como o irmão Orestes. A
mezzo-soprano Susanne Resmark esteve atenta às oscilações psicológicas de
Clitemnestra, a mãe.
A direção cênica de
Livia Sabag (amparada por cenografia de Nicolàs Boni, figurinos de Fábio
Namatame e iluminação de Caetano Vilela) é eficiente e atenta à música.
O palco é dividido em
dois andares, com quatro ambientes fixos visíveis o tempo todo. Eventualmente
algumas projeções —quase gratuitas— são superpostas à cena.
"Se eu não
escutei? Se eu não escutei a música? Mas ela vem de mim", diz Elektra
quase no final do excepcional texto do poeta Hugo von Hofmannsthal (1874-1929).
De fato, a protagonista nunca sai de cena.
Essa identidade entre
"Elektra", a ópera, e Elektra, a personagem, está também na música de
Strauss. Em sua entrada, ao pronunciar pausadamente "Agamêmnon!" —o
nome do pai assassinado pela mãe e seu amante—, reflete as notas iniciais da
orquestra, ré-lá-fá-ré.
Seguindo os passos de
Wagner (1813-83), Strauss identifica personagens com "leitmotive"
(motivos condutores), figuras sonoras individualizadas manipuladas ao longo do
drama.
Strauss e
Hofmannsthal superpõem virtuosisticamente música e texto de mãe, filha e irmã.
Mas a obsessão de Elektra contamina tudo, permite cogitar que talvez não haja,
no palco, nada além de seu ódio e solidão.
ELEKTRA 
QUANDO sáb. (15), ter. (18) e qui. (20) às 20h; dom. (16), às 17h
ONDE Theatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, tel. (11) 3053-2090
QUANTO R$ 50 a R$ 160
CLASSIFICAÇÃO 10 anos

QUANDO sáb. (15), ter. (18) e qui. (20) às 20h; dom. (16), às 17h
ONDE Theatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, tel. (11) 3053-2090
QUANTO R$ 50 a R$ 160
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
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