A Folha e a Justiça usaram meias-verdades
Fazia tempo que eu não lia um artigo completo de algum
ombudsman da Folha. Hoje eu consegui ler o texto completo da nova ombudswoman
do jornal. Uma avaliação tão bem feita que resolvi reproduzi-la na
íntegra.
Mesmo registrando que nem a ombudswoman nem a Folha assumem
que o jornal manipulou o noticiário intencionalmente como parte da estratégia
do golpe do impeachment.
Ainda não posso provar que os Estados Unidos estão por trás
do golpe, mas podemos ter certeza que a Lava Jato e a Imprensa fazem parte desde o
início da estratégia do golpe. O pior foi constatar também que, além da Lava
Jato e da Imprensa, o Judiciário, incluindo aí o STF também aderiu ao golpe. O
ideal em qualquer democracia é que nem a Justiça, nem a Imprensa sejam
partidarizadas. Principalmente se for para unir-se a golpistas.
Os fins justificam os meios? Na democracia, não.
Talvez a Folha esteja se refazendo das manipulações golpistas.
Mas faltará refazer-se da participação direta no golpe. Vejam o bom artigo de
Paula Cesarina Costa.
E se a pré-delação não
virar delação?
Folha – Ombudsman – Paula Cesarina Costa – 10/07/2016
Faz
dois anos e quatro meses que a operação Lava-Jato foi iniciada e chacoalhou o
sistema político. Na Folha, um abre de página e uma chamada no pé
da capa informavam o início da operação na edição de 18 de março de 2014:
"Réu do mensalão é preso em operação da PF contra lavagem".
Desde
então, segundo o Ministério Público, ocorreram 166 prisões e 56 acordos de
delação premiada, com os crimes já denunciados tendo envolvido o pagamento de
R$ 6,4 bilhões em propinas.
A
Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro já
realizada no Brasil. Na primeira instância, ocorreram 106 condenações, com as
penas somadas atingindo quase 1.150 anos de prisão. No Supremo Tribunal
Federal, que investiga os que tem direito a foro privilegiado, há 134 investigados,
em 59 inquéritos.
Coube
à Lava Jato popularizar o instrumento da colaboração premiada, o que concentra
as críticas mais renhidas. Um grupo de advogados publicou em manifesto que
"as prisões têm sido usadas para obter acordos de delação premiada, numa
espécie de inquisição".
Recentemente
os jornais foram dominados por detalhes das chamadas pré-delações. Passaram da
fase do "delator disse que..." para "a delação vai dizer
que...", a partir de vazamentos sobre negociações de delação em andamento.
O
delator precisa dar informações novas aos investigadores para que tenha
condição de negociar a redução de pena. Os investigadores estipulam condições
mínimas para transformar, por exemplo, uma condenação em regime fechado em
prisão domiciliar.
As
reportagens sobre negociações de delações são de claro interesse público, mas
correm sério risco de manipulação, de uma parte ou de outra. É
jornalisticamente difícil defender a não publicação. Não há como jornalistas
deixarem de acompanhar, investigar e divulgar o conteúdo do que está sendo
negociado para uma delação ser obtida.
O
problema é como as informações devem ser tratadas e, especialmente, como
anunciadas em títulos. O jornal deve se preocupar em evitar simplificações
condenatórias.
É
essencial buscar linhas próprias de investigação dos crimes sugeridos e centrar
o relato em casos com provas materiais. É preciso consistência no relato
jornalístico, para que o leitor não enquadre acusações e as reportagens na
categoria do "disse-me-disse".
As
duas mais esperadas delações premiadas desde o início da investigação estão
sendo negociadas há meses: a de Marcelo Odebrecht, herdeiro do grupo Odebrecht,
e a de Léo Pinheiro, do grupo OAS.
De
acordo com jornais e revistas, nesse processo, Odebrecht disse ter discutido
financiamento de campanha diretamente com a presidente Dilma Rousseff, que a
empreiteira fez reforma no sítio de Atibaia usado pelo ex-presidente Lula e que
o então governador Sérgio Cabral (PMDB) cobrou propina em obras como metrô e
reforma do Maracanã. Prometeu ainda detalhar financiamentos de vários partidos.
Pinheiro
envolveu o Lula (com pagamento de obras em sítio de Atibaia e tríplex no
Guarujá), Dilma (no pagamento de dívidas da agência de publicidade Pepper) e o
senador tucano Aécio Neves (suborno para auxiliares de 3% valor de obra), além
de prometer lista d os políticos que receberam dinheiro não declarado.
É
inegável o potencial explosivo, o que amplia os cuidados no tratamento do texto
e na capacidade de estabelecer linhas próprias de investigação.
Entre
conhecedores dos meandros da Lava Jato há quem veja chance razoável de os
investigadores só aceitarem a delação de um dos dois empreiteiros. Um se
beneficiará da colaboração; outro amargará integralmente com a pena dos crimes
que cometeu.
Injustiças
serão cometidas.
Criminosos escaparão ou inocentes terão sido enlameados, sem
chance de recuperação? Como se portará então a imprensa?
A
discussão fundamental é a quem interessa os vazamentos e que papel os jornais
devem assumir. Envolvidos na Lava Jato consideram muito difícil controlar tais
informações.
O
que parece evidente é que a divulgação ou vazamento do conteúdo das
pré-delações faz parte de um jogo, que não tem regras claras. Envolve
delatores, advogados e procuradores. Os textos precisam explicitar ao leitor os
jogos de interesse das delações em negociação.
Os
jornalistas trabalham em meio a tal turbulência, como transmissores para a
opinião pública dessa tensão interna.
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