A rotina de um ‘príncipe’ no cárcere
O
quê leva o jornal O Estado de S.Paulo a publicar artigos e matérias tão
provocativas? Porque humilhar um dos maiores doadores de campanhas eleitorais
de todos os partidos, principalmente do PSDB?
Teria
sido um surto de honestidade? Se fosse, estaria faltando o principio da
isonomia, isto é, tratar todos igualmente. Exigindo transparência e equidade
tanto para acusar, como para provar e condenar.
O
Estadão, de passado tão glorioso, talvez administrado por mãos que não sejam
mais da Família Mesquita, está parecendo a Folha da Tarde, jornal do Grupo
Frias, que era usado pelos torturadores da ditadura militar para divulgar as
prisões e assassinatos dos presos políticos.
Vejam
o artigo do Estadão deste fim de semana:
Delação
de Marcelo pode determinar os rumos do grupo e da Lava Jato
Jornal
Estadão – 05/06/2016
O mais rico e poderoso dos presos da Lava Jato parece resignado.
Às vésperas de completar um ano de prisão e com negociação por acordo de
delação premiada iniciado, Marcelo Bahia Odebrecht age como se só agora
entendesse o recado subliminar do nome da fase da operação que o colocou atrás
das grades: Erga Omnes – do latim “vale para todos”.
Na cela de 12 metros quadrados da Custódia da Superintendência da
Polícia Federal, em Curitiba, sem luz no teto e um buraco de latrina no chão,
algumas convicções que Marcelo sustentou publicamente perderam solidez. “Para
dedurar tem de ter o que dedurar”, disse a deputados da CPI da Petrobrás, três
meses após ser preso, no dia 19 de junho de 2015.
Desde quarta-feira, o presidente afastado do Grupo Odebrecht
passou a negociar formalmente com procuradores da República aquilo que pode
“dedurar” no esquema de corrupção na Petrobrás. Parte de uma estratégia de
defesa que ele mesmo concebeu – sobretudo nos últimos três meses, depois que
voltou para a carceragem da PF, com a prisão do marqueteiro do PT João Santana.
Sobre o colchão fino na cama de concreto, Marcelo passou e
repassou orientações aos advogados – uma banca de notáveis encabeçada pelo
criminalista Nabor Bulhões.
Nos tribunais, as arguições montadas partindo de suas diretrizes
foram caindo uma a uma – e com elas a convicção de que alguém rico e tão
próximo do poder não fica preso no Brasil.
Enquanto isso, na 13.ª Vara Federal
em Curitiba, novos pedidos de prisões foram autorizados – pelo menos um deles
em resposta à atuação agressiva e de confronto com as investigações. “Ele nunca
deixou de acreditar que porque é rico e poderoso sairia logo da cadeia”, disse
uma autoridade, em reservado.
Cárcere. Marcelo é o único
empresário do grupo “VIP” de empreiteiras acusadas de cartel ainda preso em
Curitiba. Transformou a cela – que divide com três outros presos – em academia,
escritório e biblioteca.
Duas rotinas obsessivas tomam os seus dias: escrever e
exercitar-se. Como os demais presos, Marcelo tem direito a uma hora de sol por
dia na custódia da PF. As celas não têm luz, só a do corredor, nem TV, nem
rádio. As visitas da família são às quartas-feiras – a irmã e a mulher são as
mais frequentes.
A maior parte do período de cárcere, “o príncipe” – como passou a
ser tratado pelos demais presos – ficou detido no Complexo Médico-penal, em
Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
Na unidade, administrada pelo Estado, Marcelo virou o interno
118065, um dos presos do Pavilhão 6 – que no fim de 2014 passou a abrigar a
população crescente de encarcerados de colarinho branco.
Perto das acomodações da carceragem da PF, o presídio médico é um
“paraíso”, contam os presos que já passaram para regime domiciliar. O espaço é
maior, o banho de sol não é restrito a uma hora diária e o uso de televisores e
rádios é liberado. Há ainda regalias como a permissão para entrada de alimentos
especiais.
Marcelo voltou à carceragem da PF por causa da negociação da
delação, mas graças a uma decisão do juiz da Lava Jato, que aceitou um ofício
encaminhado pela defesa em que uma médica particular atestou que o “príncipe”
estava com saúde “preocupante”, o retorno não foi tão ruim. Marcelo obteve
direito a uma dieta especial fortalecida com frutas secas, biscoitos e torradas
sem glúten.
Negócio. Forjado pelo avô
Norberto Odebrecht e pelo pai, Emílio, a assumir o império empresarial
construído pela família,
Marcelo tem em seu portfólio negociações bilionárias
que levaram o grupo à sua era de ouro –
nos governos Luiz Inácio Lula da Silva
e Dilma Rousseff.
Mas, longe do comando das empresas há um ano, seu principal
negócio hoje é obter com a Procuradoria da República uma redução da pena – quem
sabe, voltar para casa, como fizeram outros empresários delatores.
Aos 47 anos e depois de passar aniversário, Natal e réveillon de
2015 na cadeia, Marcelo foi condenado no mês passado pelo juiz federal Sérgio
Moro a 19 anos de prisão. Há ainda outras duas ações penais em andamento na
Lava Jato e outras a caminho.
O cenário obrigou o empresário a dar sua cartada
final.
O conteúdo da delação-bomba pode determinar os rumos da Lava Jato
e do Grupo Odebrecht. Marcelo Bahia Odebrecht não é só mais um preso – entre os
157 – da Lava Jato. É o maior troféu para os investigadores da força-tarefa
criada em 2014 para desmontar o estruturado e bilionário esquema de cartel e
corrupção na Petrobrás.
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