Uma vida acompanhando as empresas brasileiras serem criadas, estimuladas pelos governos civis e militares, e, depois de grande, serem vendidas a qualquer estrangeiro que consiga dólar ao custo mais barato que a taxa de juros brasileira.
Porque os empresários brasileiros não querem ser donos de multinacionais? Sabemos que existem algumas empresas brasileiras competitivas internacionalmente e que atuam no mercado internacional. Porém, a cada dia elas são vendidas em parte ou no todo para os estrangeiros. A culpa não pode ser apresentada unicamente como responsabilidade dos governos.
Desta vez, a notícia é sobre a provável venda da BRF.
Quando conselheiro do BNDES, acompanhei o esforço da diretoria do banco, particularmente de Luiz Carlos Mendonça de Barros, seu presidente, para salvar a Perdigão da falência, nomear novos administradores e arranjar novos acionistas como a Previ, a Funcef e o próprio BNDES. A operação foi tão vitoriosa que, quando a SADIA entrou em crise em 2008 foi a Perdigão que incorporou a Sadia, sendo que a Sadia era bem maior que a Perdigão.
Passaram alguns anos e apareceu como comprador de milhões de ações da BRF, o empresário Abilio Diniz, que se arranjou com outros acionistas minoritários para conseguir ser nomeado presidente do Conselho de Administração da BRF. O que vimos foi que, acionistas minoritários, com a anuência da Previ, da Funcef e do BNDES, transformaram-se em gestores principais da BRF. Mas ainda continua nas mãos de brasileiros.
Agora somos surpreendidos com esta matéria do Jornal Valor.
Mais uma grande empresa brasileira pode estar sendo vendida aos estrangeiros. Porque nossos empresários são tão provincianos? Tão pouco competitivos internacionalmente? Quando o Brasil vai superar sua síndrome de vira-lata?
Vejam a matéria do jornal Valor.
BRF pode estar no
plano de expansão da Tyson
Por Luiz Henrique Mendes - Valor - 10/05/2016 05:00
A Tyson Foods, maior empresa
de carnes dos EUA, anunciou ontem que pretende voltar a investir no exterior.
Nesse contexto, o Valor apurou que há cerca de um mês executivos da companhia
visitaram fábricas da BRF no Brasil. Procurada, a BRF não respondeu.
Em teleconferência com
analistas na manhã de ontem, o CEO da Tyson Foods, Donnie Smith, afirmou que o
caminho para a companhia voltar a crescer no exterior pode se dar por meio de
acordos ou parcerias, possivelmente nos segmentos de frango processado e de
alimentos industrializados - nos quais a
BRF atua, com as marcas Sadia e Perdigão. "Noventa e seis por cento da
população [mundial] está fora dos EUA, e o consumo de alimentos vai crescer em
todo o mundo", argumentou.
Ainda que a visita dos
executivos da Tyson às unidades da companhia brasileira não signifique uma
oferta efetivamente, uma fonte próxima à BRF disse que o interesse da Tyson na
empresa é a justificativa para a alteração da cláusula de proteção à dispersão
acionária (a chamada 'poison pill'), aprovada em assembleia em 7 de abril. Na
prática, a alteração ampliou a fatia de ações que investidores podem ter na BRF
sem a necessidade de fazer uma oferta de compra para todos os acionistas da
companhia brasileira. Antes dessa decisão, a 'poison pill' era de 20%. Agora, é
de 33,33%.
Um eventual investimento da
Tyson na BRF marcaria o retorno da americana ao Brasil. Em outubro de 2014, a
companhia vendeu suas operações no país para a brasileira JBS, por US$ 175
milhões. Ao mesmo tempo, deixou o México, vendendo as operações no país para a
Pilgrim's Pride, empresa americana de frango controlada pela JBS.
A saída do Brasil fazia parte
da estratégia da Tyson para angariar recursos para digerir a mega-aquisição da
americana Hillshire Brands, empresa de alimentos processados que foi alvo de
uma acirrada disputa entre Tyson e a JBS (por meio da Pilgrim's Pride). A Tyson
pagou US$ 8,6 bilhões para levar a Hillshire Brands.
De lá para cá, a Tyson obteve
ganhos de sinergias da aquisição e já conseguiu uma relevante redução do índice
de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado), de 3 vezes no
exercício fiscal de 2014 para 1,8 vez nos doze meses encerrados no segundo
trimestre do ano fiscal de 2016. "Eles estão bem adiantados com o que
tinham se comprometido na aquisição da Hillshire", afirmou outra fonte.
É ancorada nos bons resultados
- a empresa divulgou ontem o balanço do segundo trimestre, com lucro
operacional recorde - que a Tyson mira o exterior. Para analistas, a companhia
está bem posicionada para obter crédito. Conforme a Dow Jones Newswires,
analistas do banco BB&T Capital Markets estimaram em março que a Tyson
poderia obter US$ 4 bilhões (R$ 14,2 bilhões) para financiar aquisições. Ontem,
as ações da BRF fecharam a R$ 45,92, o que dá à empresa brasileira um valor de
mercado de R$ 37,3 bilhões. As ações da Tyson, que faturou US$ 41 bilhões no
ano-fiscal 2015, subiram 1,47% ontem na bolsa de Nova York.
Do ponto de vista estratégico,
uma eventual parceria entre Tyson e BRF seria interessante para as duas
empresas, ampliando o poder de fogo de ambas na concorrência com a JBS, líder
global na produção de carnes, observou uma fonte. "Afinal, a JBS já tem um
pé lá nos EUA", afirma um analista. Para a BRF, que teve uma receita
líquida de R$ 32,1 bilhões em 2015, o investimento também representaria uma
forma de entrar nos EUA.
Com a flexibilização da
'poison pill' da BRF, a Tyson poderia adquirir uma fatia relevante da empresa e
ser a "controladora de fato", indicando membros para o conselho de
administração, mas sem alterar a gestão profundamente - ao menos em um primeiro
momento. Para um especialista do setor, a Tyson assim evitaria o erro de sua
passagem anterior no país, quando adquiriu pequenas empresas regionais de carne
de frango, sem marcas fortes. Na BRF, a Tyson contaria com as duas marcas
líderes no Brasil.
O desempenho insatisfatório da
Tyson em sua primeira passagem pelo Brasil, entre 2008 e 2014, também pode ser
explicado pelo contexto da economia americana. Quando aportou no país, a Tyson
vivia um cenário adverso nos EUA. Foi também nesse momento que a JBS avançou no
mercado americano.
Afora isso, as diversas tentativas da Tyson de expandir a
atuação no Brasil esbarraram no poder de fogo dos concorrentes brasileiros,
fortalecidos pelo apoio do BNDES.
Com o Brasil agora em crise, o jogo poderia
mudar. (Colaboraram Fernando Lopes e Alda do Amaral Rocha de São Paulo)
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