Estamos começando o ano de 2016 acompanhando a crise econômica
na China contaminar o economia global. No Brasil, além de a imprensa e a
direita continuarem tentando o golpe, o governo e o novo ministro da Fazenda
estão investindo na construção de uma nova imagem e de um novo Conselhão. Enquanto isto, as disputas políticas continuam...
Considerando que é possível melhorar a Economia, conter os
aumentos da Selic e retomar o crescimento econômico, mesmo com a inflação ainda
em patamar acima de 5%, quero aproveitar o artigo de Delfim Netto, na Folha de
hoje, para recomendar que o governo pense em nomes como o de Delfim, do
professor Bresser Pereira e de Belluzzo. Estes podem contribuir como
moderadores no Conselho.
Da parte dos trabalhadores, além dos representantes
das Centrais Sindicais, é imprescindível a participação do Dieese. Como mesmo nos governos petistas, o Brasil continua cada vez
mais capitalista, recomendo a leitura desta nova aula do professor Delfim. O
Brasil precisa de mais diálogo e mais respeito aos acordos e às instituições.
Quem diria, Delfim, com o passar do tempo, passou também a ser ouvido pelos
trabalhadores. Os patrões vão ficar com inveja. Mas é uma boa inveja...
Acomodação
Delfim
Netto – Folha S.Paulo
13/01/2016 02h00
O mais terrível
desperdício que pode haver numa sociedade civilizada é o desemprego.
Cada vez que uma
pessoa que pode e quer trabalhar não encontra um emprego, sente-se excluída da
sociedade. A situação é ainda mais grave quando o desemprego se prolonga e ela
perde o "capital humano" que adquiriu no simples ato de trabalhar:
vai-se, com o tempo, a sua expertise, superada pelos avanços da tecnologia.
Sofre um rebaixamento de seu status social e lhe resta, se tiver alguma sorte,
a oportunidade de pertencer ao gueto dos que têm de aceitar salário abaixo de
suas qualificações. No fim do dia, perdeu um pedaço da sua identidade e
destruiu sua família.
Um nível de
desemprego acima do mínimo suficiente para acomodar as mudanças estruturais e
tecnológicas que ocorrem em toda a organização social dinâmica e produzem o
aumento da produtividade do trabalho (cujo apelido é "desenvolvimento
econômico") é a tragédia que revela a falsidade da conjecturada eficiência
do capitalismo do "laissez aller", "laissez faire",
"laissez passer", que alguns ainda supõem ter sido matematicamente
demonstrada.
O
"capitalismo" é um instante histórico na procura do homem por uma
sociedade civilizada. Não é eterno, nem é "justo", mas é o melhor que
se encontrou até agora. Sobreviveu adaptando-se ao enfrentamento do poder
econômico do capital pelos trabalhadores com a criação do sufrágio universal a
partir do século 19. Na urna, ele dá o mesmo poder a cada cidadão, não importa
se vende (é trabalhador) ou compra (é capitalista) força de trabalho.
Quem defende o
entendimento direto entre os comitês de fábrica com os empresários, sob a
vigilância dos sindicatos (que também têm muito a aprender) para enfrentar as
flutuações cíclicas ínsitas na economia de mercado, tem plena consciência das
limitações e inconvenientes das levianas propostas de flexibilização "tout
court" do mercado de trabalho.
Tal teoria é apenas mais uma conjectura
contra a qual pesam sérios exemplos empíricos levantados em 2005 (no livro
"Fighting Unemployment", de David Howell) e confirmados em 2012 (em
"Macroeconomics Beyond the NAIRU", de Servaas Storm e C. W. M.
Naastepad).
O que se propõe é que
trabalhadores e empresários, sentados numa mesa com informações relevantes e
transparentes, possam discutir – caso a caso, livre e concretamente – qual a
melhor forma de ambos enfrentarem as inevitáveis flutuações da conjuntura.
Devem procurar a distribuição mais "justa" dos ganhos e dos seus
inconvenientes, a segurança e a estabilidade do emprego além de respeitar todos
os direitos constitucionais dos trabalhadores. Por si mesmo, esse entendimento
aumentará o bem-estar de todos e mitigará as próprias flutuações cíclicas.
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