Festa libidinosa contraria Evangélicos
Como todos sabem, o novo
presidente do Congresso Nacional, além de conservador, apoiador de Aécio e de
oposição ao governo Dilma e ao PT, ele é assumidamente Evangélico e foi eleito
prioritariamente com os votos dos Evangélicos.
- E se Eduardo Cunha usar
dos seus poderes congressuais e resolver acabar com o Carnaval brasileiro, por
ser libidinoso, estimular a promiscuidade sexual, a nudez e o risco da AIDS? Seria possível tanta loucura? Claro que seria!
Eduardo Cunha se acha ungido por Deus e pelas Igrejas Evangélicas para “restabelecer
a moralidade no Brasil e acabar com a ameaça comunista, representada pelo PT.”
Quando fui olhar os jornais,
surpreendi-me com várias matérias na Folha de S.Paulo, incluindo o Editorial,
chamando atenção quanto aos delírios bonapartistas de Eduardo Cunha. Em vez de
escrever o texto sobre o que seria os argumentos de Eduardo Cunha para acabar
com esta festa promíscua chamada Carnaval, resolvi reproduzir o Editorial da
Folha. Nem tudo está perdido...
Leiam o bom Editorial da Folha neste sábado de Carnaval.
O galo canta
Embalado pela vitória na disputa pela presidência
da Câmara, Eduardo Cunha avança o sinal e impõe pauta ultraconservadora
Obtida
graças a uma superior habilidade para a articulação política e à notória
incompetência do governo Dilma Rousseff (PT) nesse campo, a vitória na eleição
para a presidência da Câmara parece ter subido à cabeça do deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ).
A
julgar por suas mais recentes declarações, tudo se passa como se os 267 votos
que recebeu de seus colegas equivalessem às dezenas de milhões que teria de
conseguir junto ao eleitorado brasileiro para se tornar presidente da
República.
Em
tese, os votos concedidos a Cunha pela maioria dos deputados têm precisamente o
sentido de legitimá-lo como representante máximo de um Poder autônomo, cuja
capacidade de se contrapor ao Executivo é garantia imprescindível para o
equilíbrio republicano.
Todavia,
o novo comandante da Câmara avança o sinal. Não se comporta como o orquestrador
das tendências vigentes no plenário, mas parte para uma carreira solo.
Já
adiantou, a respeito das deliberações da Casa, o que quer e o que não quer, o
que aceita e o que recusa, o que será admitido ou não por sua vontade
individual, mesmo que a vaca (para recorrer à imagem da moda) tussa ou deixe de
tossir.
Ocorre
que a famigerada vaca não é tão metafórica assim. Em qualquer votação do
Legislativo está em jogo, a rigor, a vontade da maioria do povo brasileiro.
O
presidente da Câmara decreta, contudo, que projetos que tratem da legalização
do aborto, por exemplo, só entrarão em pauta se passarem por cima de seu
cadáver --expressão usada em entrevista ao jornal "O Estado de S.
Paulo". O tema não merece discussão republicana, em especial se for para
realizar uma consulta popular?
Não
na sua ótica, que privilegia a ridícula proposta (de sua autoria) de criar o
"Dia do Orgulho Heterossexual". Cunha entende que a vasta maioria da
população sofre, ou corre risco de sofrer, discriminação por não ser gay.
O
deputado, como se sabe, é evangélico. Há cerca de 80 de seus colegas com
semelhantes convicções. A força dessa bancada supera sua representação
numérica.
Agindo
como porta-voz desse grupo, Cunha alcança vários objetivos ao mesmo tempo.
Beneficiado pelo voto fisiológico do "baixo clero", o novo presidente
da Câmara "ideologiza" seu papel justamente nas questões que dizem
respeito ao foro íntimo dos cidadãos.
Assim
Cunha amplia seu poder de barganha diante do governo, que mal e mal ainda não
se rende ao conservadorismo religioso. Surge, ademais, como líder nacional, em
posto de destaque numa conjuntura em que os principais partidos naufragam no
descrédito.
Para
insistir nas metáforas rurais, Cunha canta de galo. Resta saber se resiste à
"tosse da vaca", ou aos riscos de denúncia em alguma operação da
Polícia Federal.
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