Recessão Econômica e Fascismo
Antigamente se ouvia que
“Quando os Estados Unidos ficavam gripados, os países pobres ficavam
tuberculosos”, atualmente a mesma frase vale
para a China e a Alemanha. A economia mundial passa por estes três países.
Os Estados Unidos estão
mancos, a China se retrai e a Alemanha tem uma “queda em parafuso”. Ou os
demais países constroem mecanismos compensatórios de importação e exportação,
ou a recessão econômica voltará a atormentar as democracias.
Quando há crise econômica,
crise de segurança e falta de perspectivas, o fascismo sempre reaparece.
Estamos em 2014, a 100 anos da primeira grande Guerra, que serviu de base para
a segunda…
A direita cresceu na
Espanha, cresceu nos Estados Unidos, cresceu na França e está crescendo na
Alemanha. O Brasil está passando pelo mesmo ataque conservador, que vem
pregando o ódio e a segregação. A direita saiu do armário no Brasil e estamos
vivendo um grande retrocesso nos valores e nos direitos coletivos.
Os progressistas precisam
ser mais criativos e criar novos projetos de democracia participativa com
crescimento econômico e solidariedade. Os
discursos velhos não servem para a atualidade. O fascismo está reaparecendo em
nome da ordem e da segurança. Precisamos intensificar nossa democracia e nossas
formas de organização.
Vejam esta materia de
Gilles Lapouge, que saiu no Estadão.
Alemanha em debandada
Estadão
– 14/10/2014
Gilles Lapouge
Só nos faltava essa!
A Alemanha, a
maravilha da Europa, a laboriosa, virtuosa e eficiente Alemanha, que empurra
com bravura a Europa que segue atrás dela, além de repreender Grécia, Itália e
França, eis que ela também tem uma
"queda em parafuso".
No segundo trimestre do ano, a Alemanha viu seu Produto Interno Bruto
(PIB) recuar 0,2%. O terceiro trimestre não foi melhor. Nesse caso, o país entraria em recessão, como
Grécia ou esses países vulgares do "Club Med", que Berlim alfineta há
cinco anos.
Na França, muita gente se regozija com o desfalecimento da economia
alemã. Nas escolas, os piores da classe sempre dão uma sonora gargalhada quando
o primeiro obtém uma nota ruim.
Que estupidez! A ducha fria da
Alemanha sobre uma União Europeia perpetuamente letárgica é uma péssima
notícia.
Claro que a Alemanha vende para a China, para os países emergentes, para
Rússia, Estados Unidos, mas seu grande mercado é a zona do euro, que absorve 40% das suas exportações.
A surpresa que tomou conta dos europeus ao saberem que a
locomotiva da Europa está avariada, à margem da estrada, é bizarra.
Há anos chegam
sinais negativos de Berlim e ninguém viu.
Um dos maiores economistas alemães, Marcel
Fratzscher, que integrou no passado o Banco Central Europeu (BCE) e hoje é
conselheiro do governo de Berlim, já previa isso e repete sua teoria num livro
que será lançado em alguns dias intitulado Die
Deutschland Illusion (A Ilusão Alemã).
Em suas conferências, ele faz uma pergunta para a plateia:
"Existe um país que desde 2000 registrou um crescimento mais fraco
do que a média da zona do euro, cuja produtividade pouco aumentou e onde dois a
cada três assalariados viram sua renda cair? Qual é esse país? A
Alemanha."
Fratzscher enumera no seu livro os males da Alemanha.
São inúmeros, mas o mais grave é a fragilidade dos investimentos. A Alemanha é um país que se tornou avarento.
Há dez anos evita gastos. Nos anos 90, o Estado e as empresas investiam 25% do
PIB em infraestrutura, taxa que caiu para 19,7% em 2013.
É sobretudo no caso das vias de comunicação que a mesquinhez alemã foi
mais prejudicial: rodovias, estradas nacionais, pontes, eclusas, estradas de
ferro, vias de navegação estão deterioradas. A Alemanha parece um corpo humano
em que a circulação do sangue diminuiu. Uma ponte rodoviária com uma enorme
necessidade de reforma. O que não ocorre.
É o caso também
das escolas, incluindo os jardins de infância, que não têm mais nível internacional. Berlim e Estados não querem abrir
seus cofres. São os pais que devem financiar. Se recusarem, as mulheres devem
retirar seus filhos das creches e se ocupar deles. Portanto, perda de mão de
obra e freio na produção.
E sabemos que os bilhões que deveriam ser investidos nos jardins de
infância seriam rapidamente rentabilizados.
Para conter o declínio das redes ferroviárias e rodoviárias, serão
necessários 10 bilhões por ano. Ora, isso está fora de questão. O governo
federal, obcecado por seus equilíbrios orçamentários, prevê um gasto de apenas
1,25 bilhão por ano até 2017.
Um outro dado oferecido por Marcel Fratzscher: para manter os
investimentos num nível decente seria necessário que o Estado e as empresas
gastassem anualmente 103 bilhões mais do que estão despendendo hoje.
Para o economista, o que
observamos é o "inverso do milagre alemão" que explica a pane que
a Alemanha sofre há seis meses, uma pane estranha e que esperamos seja a mais
rápida possível. Pois, caso contrário, a Europa inteira é que perderá o fôlego.
/ Tradução de Terezinha Martino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário