Quem manipula quem?
Vários jornais publicaram que Benjamin Steibruch,
presidente da Fiesp, teria ditto que o “Desemprego bate à porta” da economia
brasileira. Esta declaração combinada com o momento eleitoral é um peça de
terrorismo eleitoral contra o governo Dilma. Será que foi erro dos jornais?
Será que foi intenção de Steinbuch destacar exatamente isto? Estaria Steibruch
fazendo campanha contra Dilma, Mercadante e todo o PT? Fiquei em dúvida.
Hoje o jornal Folha de S.Paulo publica no caderno de
economia um artigo de Steibruch com o mesmo título eleitoreiro: Desemprego bate
à porta.
Não sei quem escolheu o título do artigo, se foi a
Folha ou se foi Steinbruch. Mas o intuit eleitoreiro do título continua.
Ao ler a íntegra do artigo, vemos coisas muito
interessantes. Primeiro, que ele se baseia em um Estudo da Fiesp. Logo,
representa a posição da Fiesp. Inclusive do título? Segundo, o artigo aborda questões
importantíssimas a começar pela palavra chave do artigo: COMPETITIVIDADE
INTERNACIONAL. Se competitividade é a palavra chave, por que o título é “Desemprego
bate à porta”? Para fazer campanha contra Dilma?
Pus em negrito palavras chaves em quase todos os
parágrafos do artigo. Leiam com atenção e reflitam comigo: Será que o título
dado reflete a grandeza do artigo? Será que não estão usando o nome da Fiesp e
de tão importante empresário indevidamente?
Leiam a íntegra do artigo com as palavras relevantes
em negrito:
Desemprego bate à porta
Para entrar no barco do avanço global,
país precisa corrigir com rapidez entraves para a sua competitividade
Folha
– 23/09/2014 – Benjamin Steinbruch
Qualquer
que seja o escolhido nas próximas eleições presidenciais, a verdade é que o
Brasil precisa estar preparado para participar do novo ciclo de crescimento mundial que já está começando --todas as
previsões de analistas indicam que esse ciclo, puxado principalmente pelos EUA,
será longo, embora com crescimento médio mais moderado.
O
Brasil pode entrar no barco dessa nova expansão global e, para isso precisa,
basicamente, ser mais competitivo. Isso vale para todos os setores, mas para a
indústria, sem nenhuma dúvida, competitividade
é a palavra-chave nesse contexto.
Tentarei
ser bastante objetivo a respeito desse tema, cujo estudo tem sido aprofundado
pela Fiesp, por meio de seu Departamento de Competitividade e
Tecnologia. Perder competitividade significa, grosso modo, ficar fora de
mercado por condições contrárias adversas locais.
Ao
investigar as origens dessas desvantagens,
aparecem de forma límpida dois problemas básicos: o elevado custo Brasil e a
valorização do real.
Estudo
da Fiesp, feito com base em dados do ano passado, concluiu que o custo Brasil gera um acréscimo de
23,4% nos preços dos produtos da indústria de transformação quando comparados
com os similares de seus principais parceiros comerciais.
O item mais importante do custo Brasil é
a tributação,
incluindo-se aí a carga burocrática. O trabalho da Fiesp mostra que a indústria
brasileira pagava no ano passado, em média, nesse item, 14% a mais que seus
parceiros comerciais.
Sobre a burocracia, um exemplo diz tudo: o tempo que uma
empresa brasileira gasta para preparar, registrar e pagar impostos é de 2.600
horas de trabalho por ano, em comparação com 249 horas de seus parceiros.
Outro
item importante do custo Brasil advém do crédito
caro. Só os gastos com capital de giro representam um acréscimo superior a
4% em comparação com os dos principais parceiros comerciais do país.
Os juros internos exorbitantes desestimulam
os investimentos.
Outro estudo da Fiesp mostrou que os empresários que
investiram em sua indústria entre 2008 e 2012 tiveram um retorno médio de 47%.
Mas os que deixaram de investir e aplicaram os recursos no mercado financeiro,
em um fundo de renda fixa, por exemplo, obtiveram retorno de 62% no mesmo
período.
Apesar
da queda do custo da energia e das matérias-primas em 2012 e 2013, esses itens
ainda representavam, no ano passado, um acréscimo de 3% nos preços dos produtos
industriais em relação aos dos parceiros.
Outros
fatores, como os custos de serviço e de infraestrutura logística, também
competem para encarecer o Brasil.
Além do custo Brasil, porém, a valorização do real é um fator importante para reduzir a
competitividade brasileira. Ninguém duvida: o real precisa ser desvalorizado em relação ao dólar. Isso provocará inflação? Sim, alguma
inflação, embora a experiência mostre que esse impacto não é tão grande quanto
se propala. Mas a valorização do real, recentemente um pouco atenuada, não pode
continuar.
A
valorização cambial proporciona alguma redução nos preços de máquinas e
equipamentos importados, o que diminui os custos de modernização e ampliação
dos parques produtivos. O impacto do
câmbio nos preços de produtos importados, porém, tira completamente a
condição de competir de milhares de itens fabricados no país.
As
alíquotas de impostos de importação são insuficientes para eliminar a
desvantagem brasileira. Elas representam, em média, 10,2% para os países
parceiros, bem abaixo da alíquota máxima de 35% negociada com a OMC
(Organização Mundial do Comércio).
Para
entrar no barco do crescimento mundial, o
Brasil precisa corrigir rapidamente esses problemas que o tiram da
competição nos mercados globais: reduzir impostos e burocracia; cortar taxas de
juros e aumentar o crédito; cuidar da infraestrutura logística; e ajustar
rapidamente a taxa de câmbio.
Dificilmente
alguém que se debruce sobre esses problemas chegará a conclusão diferente.
É o
que precisa ser feito com urgência, não por meio de medidas isoladas, e sim
como política sistemática, porque a ameaça do desemprego já bate à porta.
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