Herança Maldita
Apesar de hoje ser o dia do início da Copa do Mundo no
Brasil, quando as seleções dos Estados Unidos e do Irã estarão participando,
não posso deixar de repercutir esta boa matéria de Clovis Rossi na Folha de
hoje.
É com uma tristeza imensa que leio sobre o vem acontecendo
no Oriente Médio em decorrência das invasões americanas após o atentado
terrorista de 11 de setembro. Um ato terrorista gerou outros atos terroristas
contra sociedade e povo que estavam vivendo com todas as dificuldades mas não
tinham milhares de mortes como aconteceram desde então.
Novas barbáries estão aparecendo, os países transformando-se
em sociedades sem ordem e sem Estado, onde quadrilhas e milícias controlam
comunidades e regiões. Tudo isto faz parte do mal que vem crescendo no mundo. A
barbárie que antecede às grandes guerras...
Da mesma forma que a Inglaterra e a França dividiram povos e
regiões na África e Ásia nos séculos anteriores, os Estados Unidos estão
desorganizando povos e regiões atualmente. E a ONU já não tem autoridade para
decidir nada.
Que o momento de unidade mundial da Copa do Mundo no Brasil
sirva como uma semente de humildade e tolerância entre os povos e países.
Clovis Rossi, apesar da opção conservadora da Folha,
continua sendo um grande jornalista. Leiam sua matéria de hoje.
Oriente Médio vive possível nascimento de 'Jihadistão'
Dá a impressão de
que o Eiil quer reproduzir a ocupação do Afeganistão pelo Taleban
CLÓVIS ROSSICOLUNISTA DA FOLHA – 12/06/2014
Já há especialistas
que chamam de "Jihadistão" a província iraquiana de Al Anbar,
epicentro de uma "guerra santa" conduzida pelo EIIL (Estado Islâmico
do Iraque e do Levante), uma das franquias da Al Qaeda.
O neologismo se
deve principalmente ao fato de que não se trata, agora, da tática convencional
dos "jihadistas" que é praticar atentados e fugir em seguida para
santuários fora do alcance do governo. O que estão fazendo é ocupar territórios
--e não um território convencional: Mossul é uma cidade antiga, de grande valor
simbólico.
Mais, como escreve
Bruce Riedel, diretor do Projeto Inteligência do instituto Brookings: "O
EIIL está, na prática, criando um baluarte através do deserto sírio, no coração
do mundo árabe, borrando as fronteiras estabelecidas faz um século por
britânicos e franceses, depois da queda do Império Otomano".
É uma alusão ao
fato de que os "jihadistas" ocuparam não apenas uma parcela
importante da província iraquiana de Anbar mas também da província síria de
Raqqa. Dá a impressão de que o EIIL quer reproduzir a ocupação do Afeganistão
pelo Taleban, mas em uma área muito mais central no mundo árabe-muçulmano.
Esse suposto ou
real objetivo torna menos relevante a divisão sectária no Iraque. O governo do
primeiro-ministro Nuri al Malik (xiita) marginalizou a minoria sunita, que
governava com Saddam Hussein até a sua deposição pelos Estados Unidos.
Como o EIIL é
sunita, a primeira impressão era (ou ainda é) a de que a ofensiva do grupo era
uma revanche contra os xiitas.
Se essa impressão
corresponder aos fatos, a crise poderia ser resolvida ou, ao menos, atenuada
com uma política de inclusão dos sunitas nas estruturas governamentais
iraquianas.
"Maliki deve
decidir se oferece participação real no poder à desencantada minoria sunita ou
se continua com a política de marginalização e repressão", diz a "El
País" Ihsan al Shamari, da Universidade de Bagdá.
O problema fica
muito mais complexo, no entanto, se Abu Bakr al-Baghdadi, líder do EIIL,
pretender de fato dar concretude ao nome de seu grupo e criar um Estado nas
áreas que ocupou.
Nesse caso,
"só boa, sustentada e eficiente governança pode eliminar o grupo --e boa
governança é algo que o Iraque pós-Saddam não pôde produzir, com ou sem os
Estados Unidos", diz Riedel. Se é assim,
"Jihadistão" pode ser uma expressão que veio para ficar.
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