Tem legalidade, mas não tem legitimidade
O mundo
está à deriva. O povo sofre com a recessão, a
paralisia econômica, os cortes dos benefícios sociais, a falta de
perspectiva e de governantes que façam as mudanças necessárias.
O
resultado disto tudo é que o povo ora vota na direita fascista, ora vota nos
reformistas, ora apoia golpes militares, golpes jurídicos ou mesmo guerras
civis. Estamos no mesmo clima entre a primeira e a segunda guerra mundial.
Só que,
se houver uma terceira guerra mundial, os estragos serão muito mais
devastadores. Qualquer ditadorzinho europeu ou terceiro-mundista tem acesso a
bombas destruidoras.
Clóvis
Rossi mostra a fragilidade da ditadura no Egito. Mesmo humilhada, continua com
o apoio dos países ocidentais. Vejam o artigo de hoje.
Alto
índice de abstenção no pleito é humilhação para o 'deus' Sisi
CLÓVIS
ROSSI COLUNISTA DA FOLHA – 30/05/2014
Para
quem, como é o caso do general Abdel Fattah al-Sisi, havia exigido 40 milhões
de votos (ou cerca de 80% dos 54 milhões de eleitores registrados), a enorme
abstenção constitui uma humilhação talvez irreparável.
Contagem
extraoficial informa que compareceu às urnas a metade, pouco mais ou pouco
menos, do quórum que Sisi definira como necessário para lhe conferir um mandato
para reformar profundamente um país sob crise política, social e econômica.
Interpretação
do escritor e analista Mahmoud Salem para o precioso site "Al
Monitor": "O deus que a mídia criou sangrou e, quando um deus sangra,
ninguém mais crê na sua natureza divina".
Mais:
"Seu apoio supostamente espalhado pelo país está agora severamente em
dúvida, assim como sua capacidade gerencial e a ilusão de que o país seguirá
sua liderança".
A
abstenção, além de humilhar o ditador, é uma clara demonstração de que o Egito
está profundamente dividido em ao menos três grupos.
Dois
deles boicotaram o pleito (os seguidores da Irmandade Muçulmana e os laicos da
sociedade civil que foram a ponta de lança do movimento que levou à queda de
Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011).
O
terceiro são os que acreditam nos militares e, por extensão, em Sisi.
Define-os
o escritor Magdi Abdelhadi: "Não há dúvida de que Sisi é um nacionalista
conservador e autoritário. Mas, nisso, ele está bastante sintonizado com muitos
egípcios", declarou.
Do que tampouco
há dúvida é de que se trata de uma ditadura, uma espécie de Mubarak 2.0.
AUTORITARISMO
Escreve,
também para "Al Monitor", Zenobia Azeem, que se especializou na
observação de eleições:
"Nada
no presente ambiente político do Egito favorece eleições abertas e
multipartidárias, que permitam a plena e igual participação de todos os
egípcios e preservem a liberdade da mídia local e internacional para informar
objetivamente".
Como
parece inevitável que Sisi tenha que se reconectar com as instituições islâmicas,
o autoritarismo só tende a ser reforçado, como escreve, para "Foreign
Affairs", Robert Springborg, professor de assuntos de segurança nacional
na Escola Naval de Pós-Graduação (EUA).
"O
Egito de Sisi será aquele em que a religião reforçará o autoritarismo militar e
servirá para justificar a repressão dos oponentes, mais especialmente daqueles
políticos que, paradoxalmente, são também embebidos pelo islã", diz.
É uma
alusão ao fato de que a Irmandade Muçulmana, outra grande instituição ao lado
dos militares, está banida e e seus membros são vítimas de uma feroz repressão.
Daí vem o
Mubarak 2.0: o ditador afastado tolerava a Irmandade, embora proscrita.
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