Um país velho para um capitalismo novo
Ontem o Bradesco colocou propaganda nos principais jornais do país comemorando seus 70 anos de vida. Parabéns! Não é qualquer empresa que consegue sobreviver 70 anos no Brasil.
Pensei que nossa imprensa fosse fazer grandes reportagens sobre o assunto, mas hoje não encontrei uma palavra sequer. Então resolvi escrever um outro olhar sobre estas datas comemorativas.
Há alguns dias, mas precisamente no dia 06 deste mês de março, o ex-presidente da república Lula esteve na reunião da direção nacional da CUT comemorando os primeiros 30 anos de existência da primeira central sindical da história do Brasil.
O que o Bradesco e a CUT têm em comum com a história do Brasil?
Muita coisa.
O Bradesco foi o primeiro banco privado nacional a adotar uma estratégia nacional de crescimento voltado para os pequenos e médios negociantes e empresários. Teve a coragem de abrir as agências para que o povão tivesse acesso ao sistema bancário. E soube, como algumas outras organizações empresariais, crescer durante o período de crescimento econômico da ditadura militar.
Com a redemocratização, o Bradesco sentiu na pele o surgimento de um novo sindicalismo brasileiro. Já em 1978 o Bradesco, que tinha seu vice-presidente como presidente da Fenaban - Federação dos Bancos, viu os bancários de São Paulo e de outras regiões do Brasil tentarem organizar sua primeira greve por melhores salários. Mas em 1978 o Brasil vivia sob forte ditadura e a repressão foi violenta, com prisões e pancadarias...
Em 1979, já como diretoria eleita, o sindicalismo combativo convocou uma greve nacional dos bancários por melhores salários. E não era para menos, naquele tempo o piso salarial dos bancários era equivalente a 1,2 salário mínimo e a rotatividade chegava a trinta mil bancários por ano em todo Brasil. Mais uma vez a repressão foi violenta, com intervenções nos sindicatos, mais prisões e, em apenas um dia, a Polícia Militar de São Paulo gastou um terço do estoque de bombas de gás lacrimogêneo.
Em 1983, no dia 13 de junho, o Bradesco Cidade de Deus, matriz do banco em Osasco, com seus mais de vinte mil funcionários, convocou todos para trabalhar. Acontece que 13 de junho é dia de Santo Antonio, padroeiro de Osasco e feriado municipal. Mas o Bradesco sempre trabalhou neste dia, para fazer a retaguarda nacional das operações. Sem pagar horas extras para ninguém. Afinal, o Bradesco acreditava em Deus e contribuía para enriquecer o Brasil.
Mas, em 1983, o Brasil já voltava para a democracia, todos os governadores tinham sido eleitos e a ampla maioria vinha da oposição à ditadura. O governador de São Paulo era Franco Monotoro, figura de proa pela redemocratização do Brasil e militante da Igreja. O arcebispo de São Paulo era Dom Paulo Evaristo Arns, maior figura da Teologia da Libertação na Igreja brasileira.
Dom Paulo fez uma carta conclamando o Bradesco a respeitar o dia de Santo Antonio e respeitar o feriado. A diretoria do Sindicato esteve com Montoro, com o secretário de segurança pública, com o prefeito de Osasco e com a diretoria do Bradesco. Era preciso respeitar o dia de Santo Antonio e o feriado de Osasco, sede do Bradesco.
O banco ficou dividido, por um lado muitos diretores queriam respeitar o feriado, mas o dono do banco, Amador Aguiar, o grande estrategista do sistema financeiro nacional, resistiu a ideia. Quando chegou o 13 de junho de 1983, o Bradesco viu, pela primeira vez, piquetes em todos os onze portões da grande matriz. Os bancários com bandinhas, pipocas e muita fantasia impediam que os funcionários entrassem para que assim eles respeitassem o dia de Santo Antonio, padroeiro da cidade. Afinal, o Bradesco acreditava em Deus e na Igreja.
A paralisação foi um sucesso e desde então, todos os anos, apenas uma parcela dos funcionários trabalham e todos recebem horas extras por trabalharem no feriado.
Mas em 1983 ainda estávamos na ditadura e o governo federal vivia em crise política e econômica, baixando pacotes e mais pacotes. Os trabalhadores brasileiros reagiram e convocaram uma Greve Geral. A ditadura reagiu e interveio em cinco sindicatos. Entre eles estava o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Que parou a Cidade de Deus pela primeira vez.
O Bradesco, nestes 70 anos, aprendeu a conviver com o movimento sindical e com a democracia.
O Sindicato dos Bancários de São Paulo foi peça chave na fundação da primeira central sindical brasileira, a CUT – Central Única dos Trabalhadores, em 28 de agosto de 1983. A primeira conta corrente da CUT foi numa agência do Bradesco.
Por coincidência, o atual presidente da CUT, Vagner Freitas, é um funcionário do Bradesco e diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Assim, enquanto os bancos europeus e americanos existem há mais de cem anos, enquanto as centrais sindicais europeias existem há mais de cem anos, aqui no Brasil, mesmo sendo um país de mais de 500 anos, o banco privado que mais contribuiu para o capitalismo brasileiro ser de massa e a central sindical, têm apenas 70 e 30 anos respectivamente.
É por isto que o Brasil, apesar de tardio, irá desabrochar neste século XXI.
O futuro é agora.
Parabéns ao Bradesco!
Parabéns à CUT!
Parabéns ao Brasil!
E parabéns por comprar o Santander!
ResponderExcluirCoitado... Olha o tamanho do Bradesquinho perto do gigante Santander.
ResponderExcluirAté qdo esse comentário da compra do Santander é verdade???
ResponderExcluirO Bradesco tem que sair da moita, pois desde o início de 2012 parou o investimento em abertura de agências (varejo), mesmo tendo perdido o Banco Postal para o Banco do Brasil. Seu marketing parou em 2011 com a abertura de 1000 agências/pontos de atendimento. Irão patrocinar as Olimpíadas de 2016 com sua estrutura BDN toda sucateada, fruto de mau fornecedores devido a corrupção interna. Vale ressaltar que o atual Presidente o Sr. Luiz Carlos Trabuco Cappi em 2012 deu uma boa limpeza na casa, mas faltam ainda algumas ratazanas. Boa sorte Bradesco, o Brasil é nosso!!!
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