Demitiram Julio Medaglia
Para nós, amantes da música clássica, ler ou ouvir uma notícia desta, dar uma dor no coração. Moro em São Paulo há mais de 40 anos e sempre ouvimos e vemos a Radio e a TV Cultura. Meu irmão participou do Festival de Inverno de Campos de Jordão com o Maestro Eleazar de Carvalho. Já estivemos várias vezes com a família acompanhando este festival de inverno. Minha filha cresceu assistindo aos programas infantis da TV Cultura. O noticiário que mais víamos era da Cultura, quando Heródoto apresentava. Sempre ouço a Rádio Cultura quando estou dirigindo. Enfim, a Cultura faz parte da nossa vida.
O Maestro Júlio Medaglia também faz parte da história de São Paulo e da sua capital. A Associação Viva o Centro e a BM&F já trouxeram o Maestro para reger no Coreto da Praça Antonio Prado. Lembram? Julio Medaglia é daquelas pessoas que tudo que aparece dele a gente ler ou pára para ouvir. É como ouvir música de Elis Regina. Todas são boas, quando ela canta!
Ontem eu fiz um texto sobre “O Respeito aos Deficientes – e a Folha Bancária em Braille”. Os deficientes visuais poderão ler a Folha Bancária. Julio Medaglia fez uma serie de programas sobre “Os Compositores que ficaram Cegos” – como BACH. Hoje, parece que o pessoal do governo de São Paulo está sofrendo da CEGUEIRA DA ALMA. Estão desmontando a Cultura. Se a OSESP é de São Paulo, mas é também do Brasil, a Radio e TV Cultura também têm compromissos com o Brasil.
Hoje, não tive coragem de ligar na Cultura. Vim direto para escrever esta mensagem e reproduzir a entrevista de Julio Medaglia, publicada no Estadão. Gostaria de ajudar mais. Fica minha solidariedade.
Júlio Medaglia:
'É triste, estão desmontando a Cultura'
Após 25 anos na emissora, regente soube na terça que não ia continuar
28 de abril de 2011 | 6h 00 - Jotabê Medeiros - O Estado de S. Paulo Júlio Medaglia, de 73 anos, foi surpreendido nesta terça-feira. Após 25 anos na TV Cultura, teve o contrato rescindido. O maestro apresentava o Prelúdio (programa de calouros de música erudita), e mantinha na Rádio Cultura o programa diário Temas e Variações, às 11 horas.
Para Medaglia, TV Cultura barateia custos com prejuízo à qualidade dos programas
O último programa foi ao ar na própria terça, sobre o compositor Bernard Hermann. Ex-aluno de Pierre Boulez, Stockhausen e John Barbirolli, Medaglia foi fundador da Amazônia Filarmônica e dirigiu a Orquestra da Rádio de Baden-Baden e a Rádio Roquete Pinto.
O que lhe disseram ao demiti-lo?
Quem me chamou foi o João Sayad (presidente da TV Cultura). Disse muito obrigado, que fui importante, mas que ia colocar jovens para fazer o programa de rádio e a cobertura dos projetos de ópera e ia comprar um enlatado americano para a TV. Curioso porque, quando assumi, ele me chamou e ficamos quase duas horas conversando. Ele me perguntava coisas e tomava notas em um caderninho. Mas, ao me demitir, não demorou nem um minuto e meio. Tinha 24 anos de programa e fui demitido em um minuto e meio. Ele resolveu seguir as opiniões de outras pessoas. Sei quem é a pessoa que conduz esse desmonte, mas não vou dizer porque não tenho como provar.
O sr. era caro para a emissora?
No começo, eu era funcionário. Fui demitido em 2005 e transformado em PJ (Pessoa Jurídica). A direção achou que eu não podia ser personalidade física e jurídica ao mesmo tempo. Passei a ganhar R$ 4 mil, mas sem direitos trabalhistas, sem plano de saúde. No fim, estava pagando para trabalhar. Mas continuei porque achei que valia a pena. Tivemos até 2 mil jovens no programa Prelúdio. Prestamos alguns serviços, e revelamos uma geração inteira de novos músicos. O programa trazia um público jovem para a casa, o Instituto Goethe dava uma bolsa na Alemanha para o vencedor, o Consulado Italiano dava outra para a Itália. E não custava nada para a emissora. A orquestra era paga por um convênio. Recebíamos toneladas de cartas. Estão desmontando a Rádio Cultura inteira, a TV Cultura também. É uma coisa triste. Estão sendo dirigidos por pessoas que não sabem dirigir, com uma programação sucateada, programas infantis que vão sendo repetidos.
Qual era o tamanho da sua equipe?
Eu tinha um produtor, mas foi demitido há alguns meses. Era apenas o locutor. Depois que demitiram a Marta Fonterrada (produtora e radialista), eu mesmo estava pesquisando e produzindo tudo. Marta era uma pessoa muito bem preparada, uma profissional de grande gabarito.
Desde então, eu definia algum tema, como por exemplo "Compositores que ficaram cegos", e aí reunia a obra de Bach, Haendel, e assim por diante, e montava o programa. Foi assim nos últimos seis anos, cada dia uma ideia diferente.
Quais são seus planos para o futuro imediato?
Bom, eu continuo à frente de um projeto em São Bernardo do Campo, a solidificação de uma orquestra. Estou me inspirando no que Simon Rattle (maestro inglês) fez em Birmingham, a prospecção de talentos numa zona industrial, tradicionalmente de pouca atividade cultural. A partir da orquestra, revitalizou toda uma cidade. É um projeto bacana de São Bernardo, que pretende instalar um teatro para a gente nos antigos estúdios da Vera Cruz, que abrigará um grande centro cultural.
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,julio-medaglia-e-triste-estao-desmontando-a-cultura,711636,0.htm